As Aventuras no Espaço

Ao me levantar, me deparo com algo velho por aqui. Todos estão com as costas viradas para mim. Eu me pergunto porquê disso, será que eu mereço observar apenas a nuca de cada? Talvez se eu tentasse virar as minhas costas para vocês... Não, não daria certo. Estão me cercando, por todos os lados vejo costas, ombros, nucas, e mais nada. Não sei quais são suas expressões quando grito por ajuda, nem se estão com os olhos abertos, atentos ao que posso fazer. Devem estar dormindo, devo causar tédio. Eu não sei. Então eu corro, corro com toda energia que tenho, sinto meu coração bater enlouquecidamente no meu peito, se houvesse o vento por aqui, estaria batendo em meus olhos lacrimejados, e os meus punhos estão fechados por não ter onde segurar. Só que correr não adianta, por onde tento ir só vejo escuro e costas. Essas malditas costas! Porque todos resolveram desistir de mim assim? Eu preciso parar. Estou cansado. Meus pulmões estão sem ar, meu coração precisa descansar assim como minhas pernas. Levo as mãos ao joelhos, me curvo, procurando ar e aí então, eu percebo que não estou sobre chão nenhum. Estou vagando no espaço escuro e frio. Agora só me resta sentar, pois gritar não vai adiantar mais, nem correr. Vou me sentar aqui e esperar pelo sol, pela luz e pelo brilhar da vida. Como todo ser morto, eu tenho que esperar.

Do eu sozinho.

Assim calado eu vou levando, vou indo, sem ninguém perceber, seguindo meu caminho. Podem rir, xingar, bater, gritar, podem tentar de tudo, mas eu não dou a minima para o que pensam. Essa é o meu trunfo: Eu não ligo pra vocês! Vocês ligam pra mim. Ah, eu sei. Ligam demais. Pensam que sabem tudo sobre mim, vivem de primeiras e segundas impressões. Eu não me importo, sabe? Posso ser o que dizem, com toda certeza. Se dizem que sou estúpido, então eu sou. Quando dizem que sou um zé, concordo. Sou exatamente tudo o que espalham por aí, tudo e mais um pouco. A verdade é que eu sou nada, absolutamente nada. Estou aqui para observá-los, apenas, olhar seus costumes e suas manias, seus vicios e seus desejo, quero aprender a ser como vocês. Por isso, eu os deixo me guiar. É, vocês são meus guias. Me levem aonde quiserem, como bem entenderem, para o bem ou para o mal. Eu me cubro com suas criticas, seus falsos elogios e suas ofensas, as abraço com toda a força que tenho, até espreme-las e, no que sobrar, absorver o que mereço. Eu não tenho medo. Não gosto de me atrasar, de ficar pra trás, de esperar pra ver, de pensar ou raciocinar. Gosto de ir com tudo, com ou sem fé, enfrentar tudo o que eu puder apenas com o peito e a coragem. Por isso prefiro ficar calado diante de vocês. Enfrento vocês apenas com o olhar, e quando cruzam os seus olhares com o meu, riem, gritam, xingam, negam, precisam fazer algo, precisam mostrar algo, porque não sabem o que dizer, o que pensar e como agir diante de um simples olhar de solidão.

Minha tola sentença.

Tá, tudo bem, pode dizer o que for. Pode dizer que foi por sua causa que eu fiquei assim, que se você procurasse me entender não estariamos nessa situação ou que você explode muito, grita muito, fala muito, tudo muito. Pode tentar colocar a culpa em você. Vai lá, tente. Ninguém vai acreditar, ninguém vai se quer ter pena de mim. Nem eu tenho pena de mim. Por mais que você grite, que espernei e tente chamar a atenção de todos, ninguém vai culpá-la. Pois, em sua defesa, direi que o verdadeiro culpado sou eu, que cansei de todos que viviam ao meu redor, cansei dos sorrisos e abraços, das vontades e das mentiras, simplesmente cansei. Eu que me deixei levar pela sombra da escuridão, deixei-a pousar sobre minha cabeça e me cegar completamente. Eu, que invés de tirar os pés do chão e flutuar, fiz exatamente o contrário, deixei meus pés pesados e afundei na terra úmida e suja. Eu sou o culpado por seus planos darem errados e suas palavras perderem o sentindo, sou o culpado por seus olhos sempre estarem molhados ou por seu coração estar doendo agora. Não me venha dizer que somos cúmplices, porque não somos. Tá, somos cúmplices no amor, na paixão, na amizade, nas lembranças. Mas, na merda toda que aconteceu, eu sou o único culpado. Eu vou carregar esse sentimento comigo. Serei eu, daqui á dez ou vinte anos, que quando lembrar do que houve entre nós se sentirá mais triste e frustrado.A culpa é um fardo pesado que eu carregarei para sempre nos meus ombros e para onde quer que eu olhe, irei me depará com o fim. Essa é a minha sentença. Essa é a sentença dos tolos que não sabem amar.