É no seu embalo
É no seu cantinho
Meus pés com os teus
Minha respiração na tua
Sorrimos amor
Dançamos paixão
Você vai, eu venho
Eu pra lá, você pra cá
Dançamos o fervor
Sorrimos a gratidão
Por uma noite cantada
Juntos, girando
Pela cama desarrumada
Juntos, acordando
Bom dia, pequena
Abres os olhos pra vida serena
E do que vale a pena o acordar
Se não for nos teus braços
Se não for pra te amarrar
Com os meus laços
Um embrulho sem forma
Numa noite esquecida
Sem brilho, sem fama
Nada  pertence  a sua vida

Teus risos não são pra mim
Eu nunca te fiz sorrir assim
Tão sem paz, tão sem ardor
Teu sorriso é pura dor, pura dor

No passo fantasma
Eu sigo, corro
Na trilha marasma
Eu quero o socorro

Sem lembranças,
Sonha os beijos de esperanças
Nem pesadelos,
Que ainda são os meus apelos

Inesperado,
O badalado garoto se vê abandonado
Desesperado,
Corre desalmado pelas ruas de rostos alarmados

O tempo se foi
E ele se viu cansado
O tempo se foi
E ele se viu largado
Abre os olhos e chora, por sentir que a cama ainda está vazia, que a dor não passou. Abre os olhos porque não consegue mantê-los fechados e encarar de frente seus pesadelos, que sempre trazem à tona todo os erros cometidos, todas os pecados. Já não sabe mais o quê enxergar, não encontra mais beleza em nada. O seu mundo está se diluindo na sua frente e já não tem forças para salvá-lo. Reza para que seu coração seja curado, que a ferida não esteja mais aberta nesse novo dia, mas ele sempre se depará com mais sangue, mais sofrimento e não entende o motivo de tudo isso estar acontecendo agora.  Procura explicações nas estrelas, no céu, no mar, nas pessoas, na TV e no cinema, mas nada e nem ninguém consegue lhe explicar a causa dessa dor incessante em seu peito. Deseja um dia voltar a sorrir como sorria antes, sem amargura, sem pressão, sem mágoas. Sonha com um mundo que gira e que o leve para novas chances, novas pessoas, novos amores. Anda pelas ruas tentando observar o óbvio, a felicidade, ele encontra, mas logo percebe que nada lhe pertence e a felicidade que quer encontrar não está fora e sim dentro. Cansa dos murros e pontapés, apanha das palavras e xingamentos, é torturado pela impaciência e incompreenssão. Não gosta mais de ler como antes, não dança mais como antes,  não joga mais como antes, já não é mais o antes. É o agora. O terrível presente que alguém lhe deu. O pior é saber que foi ele mesmo que resolveu seguir por esse caminho. Só o que resta é continuar caminhando, meio cambaleando, meio rastejando, mas caminhando, sabendo que uma hora ou outra, entre uma luta e uma batalha, entre uma lágrima e um sorriso, alguém de novo aparecerá e resgatará tudo que lhe foi roubado durante todo o percurso. Seguir em frente também é uma maneira de esperar por alguém.

Assassinato

Ele estendeu a mão, oferecendo sua vida que pousava na palma e iluminava a escuridão do quarto. Ela o olhou, passou a língua nos lábios e num gesto com a cabeça, pôs tudo a perder. Os dedos dele tremeram, aos poucos a vida dele foi escorregando, o rosto dele derreteu num ar de tristeza sombria, seus olhos tornaram-se cinzas e sua boca manteve-se entreaberta, com um fio de sáliva atravessado e ligado aos seus lábios que tremiam, chacoalhavam, procurando reação, palavra, para descrever aquela sensação ruim que começava a dominar seu coração e que em alguns minutos passou a dominar todos os seus orgãos, seus membros, seus sistemas, e tudo doía, tudo era elétrico, tudo era um grito, uma voz tenebrosa soprando a solidão em seus ouvidos. Ele a viu ir embora, estático, viu as costas delas se distanciarem, diminuirem cada vez mais até sumirem pela porta. A paralização do seu ser durou mais alguns segundos, até o momento em que voltou a si e percebeu que tudo que ele prezava estava jogado no chão, espalhado entre roupas sujas e sangue. Ele procurou apressado por tudo e juntou nas palmas de suas mãos, tentando manter tudo bem acolhido, bem guardado. Enquanto olhava o brilho da sua vida ali nas palmas de suas mãos, ele percebeu que faltava algo, tinha um vázio, uma dor, uma tristeza, mas também percebeu que algo cresceu dentro do seu corpo, algo ruim, capaz de destruir. Era ódio. Esse ódio cresceu, dominou seu corpo e ele gostou do que sentia, gostou da sensação de estar de pé novamente, mas só que agora seguindo um outro sentido da vida. Ele se pôs de pé, firme como um arranha-céu e deu ínicio a correria até a cozinha. Procurava loucamente por uma faca e quando encontrou, sorriu. Um fio de maldade deslizou pelo canto dos seus lábios e despejou-se quando chegou a ponta do seu queixo, pousando na lado direito do seu peito. Segurou a faca em umas das mãos e de novo começou a correr, agora pra fora e quando passava pela porta de entrada da sua casa, pode olhar a lua e como o seu brilho reluzia na lâmina da faca que carregava na mão. Tudo parecia tão claro. Ele a viu virando a esquina e pôde olhar novamente as costas que minutos antes foram-lhe dadas. Ele correu, como nunca correu antes. Como um leão caça sua presa. Sentiu as pedras da calçada arranharem a sola do seu pé, sangrando-os. Mesmo assim não parou. Continuo a sua caçada, até alcançar a maldita mulher que lhe pisou o coração e o jogou fora. O luar nunca foi tão lindo na vida dele. A brisa de verão nunca tinha sido tão gostosa ao tocar sua nuca. E enfiar a faca nas costas daquela vadia dez vezes seguida nunca pareceu tão correto. A noite se iluminou, num clarão de puro ódio e logo escureceu novamente, num aperto de arrependimento. Ele não entendia como o que parecia ser certo à minutos atrás, agora parecia ser tão errado. Não compreendeu como conseguiu fazer aquilo com ela e o que o levou a fazer. Só sabia de uma coisa, que a amava demais pra continuar sem ela. Então, ele decidiu sentir o luar entrar em seu peito e congelar o pulsar de fogo que existia ali. Foi um só golpe, uma facada direta no coração e um último olhar à mulher que tomou conta de seus olhos durante muito tempo. Olhando para ela, ele conseguiu sorrir e se sentiu feliz por estar morrendo. Pensou que essa era a única maneira de não sentir mais nada, nem a dor que é existir.

Garota do raso

Conheci uma garota que quando vai ao mar, senta-se no raso. A pobre morre de medo de se arriscar no fundo, tem medo de o mar levá-la. Ela nunca soube o que é ir de jacaré numa onda ou pisar num buraco e se assustar. Nunca sentiu o salgado cobrir seu umbigo. Todos a chamavam, até eu chamei, disse que a protegeria, que bastava segurar minha mão. Ela disse que não, que ainda tem medo de ser levada. Hoje ela ainda senta no raso quando vai ao mar, só que sozinha, pois todos seus amigos, inclusive eu, foram levados. Ela olha pro horizonte e pergunta: - Será que hoje a maré sobe? Ela espera, mas a maré pra ela não sobe mais.

Eterno

Os olhos dele brilhavam quando a enxergavam, enchiam-se de felicidade e desejo. As mãos deles tremiam quando a ouviam, suavam a espera do roçar dos dedos. O sorriso se prolongava por mais alguns minutos e caso ela sorrisse também, prolongava-se por horas de bêbada alegria. O coração acelerava ao máximo, fazia o peito doer, querendo apenas estar de frente pro peito dela para que o coração dela pudesse sentí-lo palpitar loucamente. O mundo dele tornava-se outro quando enfim conseguia tê-la derramada em seu corpo. Era escuridão ao redor e só havia luz nos dois, como se o foco de toda a humaninade estivesse voltado para aquele romance. Tudo era tão perfeito. O frio, o calor, a chuva, o sol, as nuvens, a terra, a grama... O mundo dele, enfim, estava completo.

Porém, lá no fundo, lá dentro, escondido em algum lugar, ele sabia que isso não era eterno. Que o mundo muda e os corações também. Que a felicidade sua já não é a felicidade dela. Que as pessoas têm necessidades e desejos maiores do que passar a vida numa cama de casal, pelados, vivendo de amor. Ele sabia que uma hora ou outra estaria só novamente, trocado por uma proposta de vida melhor do que ele um dia conseguirá oferecer. Sabia que o encanto acaba, a paixão vai embora, o desejo termina e o amor não é mais o bastante para sustentar sorrisos. E apesar de tudo isso, ele continuou vivendo esse romance até o fim, até onde foi possível vivê-lo e mesmo quando acabou, ele ainda o respirou. E hoje ele está perdido no mundo que criou, às vezes triste, outras vezes pior do que triste, mas nunca sozinho. Pois ainda sente o amor dentro de si e sabe, lá no fundo, como das outras vezes que soube, que sempre terá esse amor dentro do seu peito. Nem que seja apenas para fazê-lo lembrar da dor que é se entregar.
Olá, arrependimento. Como é ruim vê-lo novamente, é uma pena não poder evitá-lo. Entre logo e acomode-se. Há bastante espaço dentro do meu peito.

Enlouquecendo

Eu tenho essa vontade louca, sabe? De largar tudo que acredito, que confio, que prezo, só por alguns minutos de felicidade. Às vezes sigo um impulso louco e cometo uma loucura, mas logo isso passa. Logo me vem na cabeça todas as consequências de estar sendo um louco.

Sei que uma hora vou me sentir tão sufocado pela saudade em meu peito, estará entalado em minha garganta tanta coisa pra dizer, minha mente estará tão poluída e meu corpo suplicará tanto por esse vício, que eu vou acabar cedendo a loucura, a insanidade, de ir até você e dizer que eu te amo.