Últimas Fotografias

Vou para um lado, vou pro outro, você vem junto comigo sorrindo, chamando meu nome, meu apelido, gemendo pelo meu amor. Aperto seu braço, sua perna, sua coxa, roço minha perna na sua, roço meus lábios nos seus. Primeiro é a camisa no chão, segundo é o sutiã, terceiro é a calça e por último sua calcinha. Minha camisa vai parar na janela, meu calção debaixo da cama, minhas meias sumiram e minha cueca perdeu-se entre tantas outras peças. Suamos juntos, grudando, molhando nossos corpos quentes e refrescando nosso desejo. Tudo fica mais forte, mais rápido, mais intenso. Grita, grita e grita. Geme. Implora por mim, implora pelo meu. Arranha minha pele, sente minha carne e grita, ofegando o ar que deixamos quente, abafado pelo nossos sussurros durante o ato. Depois relaxa, esparrama seu corpo pelo macio do colchão e sorri. Engraçado como sempre está sorrindo. Engraçado como acho isso lindo. Fico te olhando deitada, tentando marcar uma outra data para um novo ato, tentando segurar lágrimas de despedida e sonhando com o futuro que nos aguarda. Ali parado, olho para a curva da sua cintura que deve existir somente para o pouso suave de minha mão, olho seus olhos fechados e consigo imaginá-los abertos, me espiando. Olho seus seios macios, prontos para serem mordidos. Olho para seu ombro, seu rosto, olho para dentro de você. Minha mente guarda dentro de si cada pedacinho de seu corpo, de seus momentos, cada pedaço do nosso amor. E esse momento, a despedida, não está de fora do álbum que criei dentro da minha cabeça. Afinal, eu estava mesmo precisando completar a última página.

Além

Ele acordou determinado a possuí-la. No dia anterior pensou bastante no que essa decisão acarretaria, nas consequências de ir além do normal e decidiu arriscar todo o laço existente entre os dois só pelo roçar dos seus lábios nos dela. Então, ele acordou e seguiu o mesmo caminho de sempre esperando encontrá-la para lhe dizer tudo que havia pensado e decidido. Sentiu sua ansiedade aumentar quando não a encontrou durante todo o caminho. Mesmo assim soube esperar até o momento do encontro, pois sabia que uma hora ou outra teria que esbarrar no ombro dela, afinal, ainda existia o laço entre eles que sempre faziam os dois darem de cara. O momento chegou e as suas pernas tremeram quando viu ela andar em sua direção, com um olhar incomum para ela e um jeito de andar pesado. Pensou que isso era normal na situação dos dois, ou seja, que é normal ficar tão nervoso quanto ele. E todos aqueles sinais no corpo dela eram apenas nervosismo que logo iria embora com o tocar dos dedos entrelaçados. Porém, ela o surpreendeu ao dizer:

- É dificil. A situação, eu e você, as pessoas ao nosso redor, nossa história. É tudo muito difícil.

Ele sentiu uma onda gelada percorrer seu corpo e seu coração começou a se encolher até sumir. Meio gago, meio nervoso e completamente partido, tentou manter o controle de si e respondeu:

- Eu preciso disso. Tenho certeza de que o destino será maravilhoso com nós dois. Você precisa confiar, precisa... - Me beijar. Era isso o que queria dizer, mas não disse. Um medo tomou conta do seu ser e acovardou-se, evitando ir além, logo agora que tinha decidido ter coragem de ir.

- Eu... Realmente não sei. - Ela parecia estar desconfortável com a situação. - Você é um grande amigo, ótimo, daqueles que gosto de conversar, mas talvez seja só isso, entende? Talvez eu apenas goste de conversar.

Logo ele viu que tudo que tinha decidido no dia anterior nada valeria naquele momento. Nada adiantaria tentar convencê-la de que ele é o cara certo para ela e vice-versa. Tentou achar forças para continuar a insistir mas notou cansaço nas palavras, nos gestos e no rosto dela. Sabia que estava destruindo tudo que eles haviam construindo até ali, mas não conseguia compreender o porquê de não poder construir algo bem maior. A onda gelada tornou-se quente num piscar do tempo, sentiu um calor enorme dominar seu corpo e torná-lo cansado. Ele não queria mais estar ali, não queria ter que ouvir tudo aquilo de novo, só que agora dito por ela, logo ela, a garota, o seu sonho. Foi então que começou a correr, desceu a ladeira que dava no portão da sua casa segurando a raiva, rangendo os dentes e com os punhos fechados. Tentou entender tudo que se passou naquela manhã, tentou entender tudo o que sentiu numa manhã que era certo para ser a melhor de sua vida, mas não conseguiu. Sentia dor, raiva, decepeção, tristeza, amor e aquela sensação de ser quebrado em pedaços. Ele não conseguiu entender. Ele não entende até hoje porque ainda pensa tanto nela. Talvez porque ele goste de pensar, entende? Apenas.

Fantasma

Parado no meio de uma rua, olhando reto, desfocado, apenas olhando reto e pensando em... Pensando em nada. Corpo estático, pele fria, vento frio, noite fria. Sinto meus pelos do braço eriçarem com a ventania que tenta empurrar meu corpo pra trás. Sinto também vultos passarem pela minha direita, pela minha esquerda, por cima de mim, por debaixo e principalmente por dentro de mim. São pessoas. Estão seguindo, indo e vindo, continuando, terminando, morrendo, vivendo, estão sendo pessoas. O frio que me passam é maior do que o frio que vem dos ventos. É um frio que se aloja dentro do meu peito, da minha mente e congela tudo dentro de mim. Por isso o corpo estático, por isso não sigo, por isso sou tão só. Porque as pessoas passam por dentro de mim e depois se vão.

Minha noite

Gotas geladas escorregam pela minha garganta, descem rasgando meu pescoço e me obrigam a fazer uma careta durante alguns segundos. Logo sorrio, alegre, levanto o braço que sustenta uma mão que por sua vez sustenta um copo. Grito, agradeço a não sei o quê e depois volto a tocar a borda do copo com meus lábios. A mesma sensação de novo e a noite segue assim, com cenas se repetindo. A noite é perfeita. Céu estrelado, lua brilhando incessantemente, iluminando toda a escuridão aqui embaixo. É bom apreciar a noite, olhar toda sua beleza e estar agradecido por isso. É muito bom. Porém, o tempo passa e na minha cabeça não é mais noite. É dia, tarde, noite, frio, calor, é uma volta inteira. Tudo gira, eu giro junto. Meu braço é rasgado por uma mão cheia de pontas que tenta me puxar pro escuro. Minha cabeça é jogada num mar marrom. Meus lábios são sangrados por uma gata selvagem. Às vezes minha mente abre os olhos e grita. Eu não escuto, eu sigo. Gosto do que está acontecendo. Me distrai, me faz ser uma pessoa que não sou. Um homem sem sentimentos que sorri, que grita, que parece estar vivendo tudo que há de melhor no mundo. Me sinto num carro em alta velocidade, seguindo numa estrada sem fim, reta, com luzes nas laterais e com amigos gritando, rindo de mim, rindo deles, rindo de tudo. De repente, o freio de mão é apertado, sou jogado pra fora do carro pelo para-brisa, rolo pela estrada rasgando todo o meu corpo, sangrando-o, sinto o carro passando por cima de mim e seguindo até sumir da minha visão. Meus olhos se fecham, minha mente se fecha e apenas as feridas do meu corpo ficam abertas. Deitado ali parece que passou milhares de anos, parece que tomei chuvas, raios e ventanias. Tento abrir os olhos várias vezes, mas o claro do sol não deixa. Quando entardece, consigo abrir e vejo que ainda estou na mesma estrada, jogado no mesmo chão e sozinho. E parece que aguentei por tudo isso. É nesse momento que aparece uma mulher, com seus cabelos negros, seu sorriso contido, seu vestido jogado ao corpo, suas mãos tocando meu rosto, seus olhos fixados nos meus, seus cuidados em mim. Ela me levanta, me segura pelo braço, limpa minhas lágrimas e apenas diz: - Vamos? Num gesto com cabeça, aceito o pedido e continuo a seguir a mesma estrada, acompanhado por ela.

Dois anos e alguns dias.

Dias não são mais dias. Noites não são noites. Sorrisos não são sorrisos. Felicidade não há. Calor não sinto. Frio sinto. Saudade também. Perdido estou. Quero ser encontrado. Tenho um buraco na alma. Falta alguma coisa. Alguém. Viver é dificil. Continuar é complicado. Seguir é o que restou. Que caminhos se cruzem e que eu seja feliz por inteiro. Como ontem, como hoje, como no dia vinte e três de outubro de dois mil e oito.

Sofrer

EU NÃO QUERO MAIS. NÃO AGUENTO MAIS ESSA DOR. POR FAVOR, MEU DEUS, TIRA ISSO DE MIM. ARRANCA ESSE SOFRIMENTO DO MEU PEITO, DA MINHA ALMA. NEM QUE PRA ISSO EU ME TORNE OCO POR DENTRO, NEM QUE EU VIRE UM MORTO-VIVO, MAS TIRA, ARRANCA, MANDA EMBORA. MINHA CABEÇA DÓI, MEU CORPO DÓI, MINHA VIDA DÓI. AS FERIDAS ABERTAS DOEM. AS FACADAS DOEM. OS SOCOS DOEM. PRINCIPALMENTE AS PALAVRAS DOEM. MEUS OUVIDOS PARECEM SANGRAR DE TANTA DOR, MINHA CABEÇA RODA, CONFUSA, PROCURANDO UMA ALTERNATIVA QUE NÃO SEJA O FIM. PORÉM, A ÚNICA ALTERNATIVA QUE TENHO É O FIM. O MEU FIM. NÃO QUERO MAIS SENTIR DOR.

Malandro

E ele vem, com seus jeito malandro de andar, seu sorriso no rosto, seus olhos perdidos e todo o brilho de uma paixão. Vem e logo me enrola com seus braços, tão morenos e fortes. Houve tempo em que meu corpo apenas se despejava sobre esses braços e meu mundo era ali, mas ultimamente estou com pavor de tocá-los. Quando eles me envolvem são como correntes que me prendem e não me deixam ir além do que sou. Os beijos dele são como sanguessugas que sugam toda a minha vitalidade, minhas energias e minha liberdade. Sinto-me sufocada com tantas carícias, tanto afago. Quero voltar para o meu mundo e dizer olá novamente à todos os meus parceiros e parceiras. Quero voltar a tomar sorvete, me lambusar e depois correr atrás das minhas crianças, dizendo que sou o monstrinho. Eu preciso me livrar disso, preciso encontrar algo concreto, que seja forte como eu sou e que me proteja. Se ao menos eu pudesse dizer isso à ele, se ao menos me deixassem mandá-lo embora, se ao menos eu tivesse uma arma e pudesse fazer dela a chave para minha liberdade, matando-o. Essa sensação de não poder é ruim, é humilhante. Me puxa para os mais baixos níveis da impotência e me afunda num poço de lágrimas... Não minhas, lágrimas dele. E como perco a paciência com os choros dele, com a carência e todo a sua insegurança. Como ele conseguiu se tornar uma pessoa tão patética? É isso que acontece com os malandros quando amam? Tornam-se Zés? Será que o amor faz eles sambarem menos quando a música da vida toca? Bom, com o meu malandro é assim. Alias, nem malandro ele é. Agora é um romântico, um Romeu. Morreria por mim, mataria por mim. Coitado. Mal sabe ele que o meu tempo acabou, que minha música se foi e todo o meu amor o deixou. Se ele ainda for malandro mesmo, talvez faça um música sobre a dor que sentirá e será ouvido por milhares ou por minorias, não importa, será ouvido. A falta que você sente não é minha, Malandro. É da música.