Sonhos

Às vezes queria apenas esbarrar você no meio do corre corre e te olhar com os olhos desavisados que logo se prenderão ao seu olhar e mergulharão no fundo negro dos seus olhos, procurando um sinal daqueles que sempre procuramos em certa pessoas, algo que me diga também sinto sua falta, nego e quando eu encontrar vou sorrir aquele sorriso que só você consegue tirar do meu rosto, e você sorrirá porque também encontrará o que quer ao me ver e o que você quer é nada menos do que um refugio, um lugar comum pra onde poder fugir e esse lugar é meu corpo, minhas mãos, meus braços, pernas, coxas, tronco, pescoço, lábios, dentes e olhos. Então nos tocaremos e no primeiro roçar dos meus dedos na sua pele sentirei uma energia como uma corrente elétrica tomando conta rapidamente do meu sistema nervoso e indo pro meu sistema cardiovascular até chegar ao meu coração e fazê-lo palpitar numa velocidade diferente, ora cadenciado, ora acelerado, mas diferente, porque é assim que você faz meu coração se sentir, diferente. E meu espirito ficará diferente ao estar diante do seu, sentirei a luz se sobressair dos meus poros e se misturar com a sua luz no ar que nos envolve e o clima ficará cada vez mais agradável, como sempre foi entre a gente, com sorrisos, olhares, toques, choques, amor e excitação. Quando meus olhos e seus olhos negros já estiverem umedecidos com lágrimas de saudade, minhas mãos viajarão até seu rosto moreno e o acolhera como uma mãe que reencontra o filho fugido do seu verdadeiro lar, então encostarei minha testa morena do sol e do trabalho na sua testa morena do sol e da maquiagem que tanto adora usar, mesmo eu dizendo que não precisava, porque você é linda naturalmente, e nossas testas se reencontrarão ao mesmo tempo em que nossos lábios e nossas línguas e eu sentirei você mais uma vez dentro de mim batendo tão forte, tão forte, que quando meus lábios se distanciarem dos seus, sussurrarei de olhos fechados eu sinto tanto sua falta e isso vai soar mais como um  eu te amo tanto... E então gargalharemos, abraçados, juntos, mais uma vez antes que a vida desate novamente esse laço que nos prende esse laço invisível que me faz sonhar quase todos os dias com esse nosso reencontro.

Bêbado


Ando meio bêbado ultimamente. Essa droga, a bebida, essa droga ilusória que me faz pensar que ando flutuando, meio solto pelas ruas do mundo, sem destino e tudo bem se for assim, tudo confuso e duplicado e escuro. Essa droga vem tomando conta do meu corpo e a cada dia que passa estou mais bêbado. Acordo já com aquela tontura bêbada com aquele bafo bêbado e meu bom dia sempre sai bêbado, ou é ‘’dia bom’’ ou ‘’boa noite’’, ‘’boa tarde’’, tantas outras saudações que se misturam e no final não saúdam nada, nem ninguém. Está difícil até pra caminhar, dou mais passos do que devia, piso onde não devia, vou para um lado quando tenho que ir pro outro e o equilíbrio é algo que não tenho mais. Porém busco sempre o equilíbrio quando saio vagando por aí, busco porque é preciso manter certa postura diante dos desconhecidos, diante de quem sempre te julgará pelo seu passo bêbado, seu cabelo malfeito e seus trajes estranhos. O meu problema é que não encontro mais o equilíbrio nem no caminhar, nem dentro de mim. E esse tal do equilíbrio representa um eu idealizado por mim mesmo que nunca existirá, onde sou o que deveria ser, faço o que deveria fazer, ando reto, piso firme. É um sonho que eu bêbado tento alcançar, mas nunca consigo. A distância entre o bêbado e o sonho foi se tornando cada vez maior, como um entrelaçar de dedos que vai se desfazendo, desfazendo, até os dedos não se tocarem e se distanciarem tanto que criam a certeza de que nunca mais vão se entrelaçar de novo, cada um vivendo no seu escuro. Então, eu bêbado assim, mesmo com a certeza de que nunca serei quem deveria ser, vou procurando pelos caminhos mais confusos da mente encontrar algo que me faça ser o que não sou, me faça ter a paz do equilíbrio e quem sabe um dia saúdo o dia que amanhece com o sorriso de um sonhador: andar firme, cabelo bom, roupa certa e o copo vazio.

03:37


Acordado, olhos abertos, mente cansada e músculos exaustos. Procuro uma xícara de café, quem sabe um pão ou uma bolacha de água e sal. É incrivelmente ruim acordar dias atrás de dias sem ter sonhado e descansado e dormido. As noites agora me servem para planejar meu futuro, tão incerto, tão pessimista e negativo, que é preciso planejar a hora exata em que cairei de cabeça no poço sem fim. Acho que nem é preciso falar nos passeios pelos cômodos da casa, não é mesmo? Todo insone que se preze sabe que um tour pela sua própria moradia é um dos melhores programas que se tem pra fazer a noite. Às vezes prefiro caminhar pelas ruas mesmo, paro em uma padaria, tomo um café, mesmo sabendo que tem café em casa, mas o café da padaria vale a pena, por causa do passeio, das luzes, dos olhares, vale a pena por causa da noite. Outras vezes me pego escrevendo que nem um maluco, coisas sem sentido, cartas sem destinatários, músicas sem ritmos e pensamentos difusos, confusos, perdidos e abstratos. Minha mente tem andado meio assim ultimamente, abstrata. A-bs-tra-ta. Palavra estranha, bastante confusa, mas que eu adoro pronunciar. Sai como um elogio da minha boca e fico com vontade de rir ao dizer. Até dou uma gargalhada, mas dentro da minha mente. Um dos motivos que me fazem rolar de rir é a maneira como meus olhos vão afundando dentro do meu crânio, tanto que daqui um tempo, serão duas pedras negras num crânio esticado. Olho no espelho as transformações que o tempo custa em causar na minha aparência e é assustador a capacidade que as horas tem para arrancar de uma pele o brilho e maciez. Sinto-me um velho, daqueles que só querem sentar e esperar a hora certa pra cair duro. Vou balançar na minha cadeira de balanço, deixar a brisa afugentar a poeira do meu rosto e fechar os olhos quando as batidas do meu coração cessarem. Percebam, acabei de planejar, e esse é o meu plano de morte. Sim, é assim que quero morrer. Deve ser feliz morrer assim, tão suavemente. Ou não, morrer deve ser sempre triste mesmo. Mas a questão não é a morte em si e sim todo o ato que antecede o momento da morte. Esse ato, o último ato, esse sim deve ser feliz. Bom, o que eu sei agora, do meu presente, é que ainda não dormi e ainda estou escrevendo cartas sem destinatários, pensamentos confusos e coisas sem sentido. É como dizem ‘’O teu mal é sono!’’ Então, vou lá, deitar e olhar pro teto branco do meu quarto, esperando o momento em que o sono chegará e me fará sonhar e descansar e esperar o amanhã. E se nada disso resolver, bato minha cabeça na parede e desmaio. Boa noite.