Fuga

Ele corria desesperadamente, limpando com as costas dos dedos as gotas de suor que pousavam em seus olhos e embaçavam sua vista. Corria demais. Esbarrava nos homens de branco, nos de preto e também nos de gelo. Esses últimos, faziam ele sentir que estava cada vez mais próximo. ''Próximo do quê?'' Gritava esperneava uma voz lá de baixo do seu subconsciente. Muitas vezes era impossível escutar essa voz, já que a outra voz, a mais forte, a confortavelmente linda voz, dizia para ele seguir correndo, se era liberdade e paz que ele tanto desejava. Ele fazia o que ela mandava, claro, não tinha escolha, há momentos em que precisamos de uma voz linda para nos dizer o que fazer e ele tinha a dele. Então, como um cara inteligente que ele descobriu ser, passou a seguir todos os mandamentos dessa voz forte (e linda).

Ele corria.
Não sentia mais suas pernas doerem, porque nem era mais dono das tais que sustentavam seu corpo. Já tinham sido dominadas por não sei o quê, ou quem. Subia degraus. E essa sensação de subir degraus dava à ele a impressão de estar pulando andares, alcançando tetos. E foi isso que ele encontrou quando os degraus acabaram, um teto. Amplo, vazio e frio. Suas pernas pararam, seu suor não. Teu corpo molhado balanceou pra frente e pra trás, e o único sinal de vida dentro da sua cabeça foi um grito, estridente como trovão: ''VAI!'' E ele foi. Para nunca mais voltar. Ou quem sabe, voltar e mais uma vez tentar. Por enquanto, ele apenas foi.

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