Danço

E eu, morto como estou, ainda me pego dançando como nos meus dez anos de idade. E todo mundo olha, sorri, segura, empurra, pede mais, pede menos, grita, xinga, elogia, e todo mundo dança comigo. Eu jogo meus braços ao vento, minhas pernas confusas remexem o chão, minha cabeça perdida se encontra num baile irreal. E danço assim porque escolher não dançar já me cansou. Eu já não quero mais sentar e ouvir o que todos têm pra dizer, nem quero enxergar naqueles moços a perfeição, eu quero ficar em pé na beira do palco, levantar os braços e gritar o que tenho para dizer. Vou gritar, cantar e mandar voar entre os ares as minhas palavras de amor, meus sonhos recheados de sexo e ódio, minha vontade de morrer, meu medo de matar alguém, meu romance triste e deprimido que me fudeu durante meses, que fez do meu coração um caralho de tão doloroso, de tão remexido e partido. Vou gritar a dor que é não ter um pai e ao mesmo tempo, chorar o amor que tenho pela presença dele. Vou expulsar de mim demônios e eles vão invadir suas cabeças, suas mentes e vocês vão me ver, me olhar, me enxergar sem roupas, nu, do jeito que Deus me permitiu ser. Vou arrancar tudo o que guardo no meu estômago, no meu coração, fígado e rins. E vocês vão me ouvir, vão vomitar, e quem sabe, entender o porquê d'eu ser um homem tão pequeno e a minha dança ser tão grande.

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