Jovem, Paz, Ilusória

O mundo gira, o mundo se move e a cada ano que passa a lua está mais distante de nós. O mundo é uma bola, uma laranja descascada, o mundo é um relógio. O mundo é um cifrão e nós sabemos o que isso significa, sim? O mundo é dinheiro. Tudo é dinheiro. Não importa o quanto eles sofram, desde que eles fabriquem o meu tênis e satisfaçam minha vontade muito louca de consumir e de ser... Ser o quê? Ser legal. Ser cool. Eu tenho um novo nike, ganhei da minha tia que foi à China esses dias e comprou lá da fábrica mesmo. Ela disse que não entrou na fábrica, porque já do lado de fora da fábrica ela sentia um cheiro horrível, uma mistura de merda, urina, cola quente e sofrimento. Perguntei a ela qual era o cheiro mais forte, ela disse que era o de sofrimento. Eu aqui de longe não sinto esse cheiro, então tudo bem pra eu ficar assim. É claro que fiquei preocupado com o sofrimento deles, mas minha preocupação maior agora é esconder o baseado dos meus pais. Falando nisso, fico me perguntando às vezes de onde é que vem esse baseado, será que é da Colômbia? Da Venezuela? Não sei. O mundo é mesmo uma bola e meu teto gira junto com ele, essas cores todas também giram, esse gosto doce na boca é que causa toda essa loucura, esse movimento... Essa alucinação. Estou feliz, eu acho. Estou no teto do meu quarto e estou olhando para meu corpo deitado na minha cama. De repente eu caio em cima de mim e tomo um susto, meu coração salta fora do meu corpo e rasteja pelo lençol do meu quarto, manchando-o de sangue. O ar vai embora, as cores vão escurecendo, o mundo vai parando e eu tento alcançar meu coração, mas minhas forças também foram embora.  Então eu apenas me pouso no colchão, como pouso numa nuvem, fecho meus olhos, sinto a brisa do mundo passar sobre mim e descanso, sentindo uma paz antes nunca imaginada por mim. Eu descanso em paz.

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