Morte

A morte é algo certo, com data incerta. A morte chega num sopro negro e invade os olhos, os ouvidos e as roupas. A morte é cinza, quando chega fica negra. A morte não se cansa, nem descansa, colhe seus frutos, às vezes maduros, às vezes verdes demais, outras vezes até apodrecidos. Às vezes me pego pensando, normalmente quando estou deitado e olhando para o nada, que naquele mesmo instante uma pessoa pode estar morrendo. Uma não, mas dez, vinte, cem, mil pessoas! E isso dói, mas ao mesmo tempo alivia, pois não sou eu que estou sendo levado. Em seguida me vem um pedido, ao meu Deus, para que a morte não me leve e principalmente, não leve as pessoas tão próximas de mim. É difícil saber ou prever, mas provavelmente eu não conseguiria viver – sorrir, pular, dançar, cantar, amar, rodar, cair e levantar – se alguém, um familiar ou um grande amigo morresse. É claro que tenho que de alguma forma deixar algo engatilhado dentro de mim, algo que amenize e me faça suportar a dor de perder quem eu amo e nunca mais vê-lo novamente. Afinal, a morte é certa. Acontece com todo mundo. Até nos sonhos a morte acontece. Noites passadas, sonhei que o pai de um amigo meu morria e nós, eu e ele, assistíamos a morte do seu pai, que era assassinado enfrente à sua casa por ladrões. Um sonho muito inesperado e assustador. Lembro que eu o abraçava enquanto tudo aquilo acontecia e que ele nada fazia, estava paralisado, não descia lágrimas e não se ouvia choro, então eu começava a gritar, pedindo para que ele sentisse algo porque alguém morreu, o pai dele morreu e, droga, isso deve doer mais do que um bocado, deve doer como um tiro que nos mata, não? Foi aí que acordei. Assustado, suado, agradecendo por ser um sonho e desejando não ter outro igual. Eu não sei o que um sonho desses pode refletir dentro de mim, talvez o fato de ter perdido meu pai e desejar que isso não aconteça com mais ninguém. Ou o medo do desapego imediato que meu amigo teve quando perdeu seu pai. A morte é inesperada. Nunca sabemos e nunca saberemos quando nos tocará, quando nos invadirá. Nem quando levará um dos nossos. Precisamos cuidar, precisamos amar, precisamos cultivar nossos laços, temos que ter boas lembranças, bom amores, ótimas amizades, lindos sorrisos e felicidade com quem nos rodeia. Porque, uma hora ou outra, a morte chega, cinza e ao mesmo tempo negra, uma sombra que adentra o corpo e não deixa mais nada.
Meu medo não é a morte. É perder a vida. Vê a diferença?

Nenhum comentário:

Postar um comentário