03:37


Acordado, olhos abertos, mente cansada e músculos exaustos. Procuro uma xícara de café, quem sabe um pão ou uma bolacha de água e sal. É incrivelmente ruim acordar dias atrás de dias sem ter sonhado e descansado e dormido. As noites agora me servem para planejar meu futuro, tão incerto, tão pessimista e negativo, que é preciso planejar a hora exata em que cairei de cabeça no poço sem fim. Acho que nem é preciso falar nos passeios pelos cômodos da casa, não é mesmo? Todo insone que se preze sabe que um tour pela sua própria moradia é um dos melhores programas que se tem pra fazer a noite. Às vezes prefiro caminhar pelas ruas mesmo, paro em uma padaria, tomo um café, mesmo sabendo que tem café em casa, mas o café da padaria vale a pena, por causa do passeio, das luzes, dos olhares, vale a pena por causa da noite. Outras vezes me pego escrevendo que nem um maluco, coisas sem sentido, cartas sem destinatários, músicas sem ritmos e pensamentos difusos, confusos, perdidos e abstratos. Minha mente tem andado meio assim ultimamente, abstrata. A-bs-tra-ta. Palavra estranha, bastante confusa, mas que eu adoro pronunciar. Sai como um elogio da minha boca e fico com vontade de rir ao dizer. Até dou uma gargalhada, mas dentro da minha mente. Um dos motivos que me fazem rolar de rir é a maneira como meus olhos vão afundando dentro do meu crânio, tanto que daqui um tempo, serão duas pedras negras num crânio esticado. Olho no espelho as transformações que o tempo custa em causar na minha aparência e é assustador a capacidade que as horas tem para arrancar de uma pele o brilho e maciez. Sinto-me um velho, daqueles que só querem sentar e esperar a hora certa pra cair duro. Vou balançar na minha cadeira de balanço, deixar a brisa afugentar a poeira do meu rosto e fechar os olhos quando as batidas do meu coração cessarem. Percebam, acabei de planejar, e esse é o meu plano de morte. Sim, é assim que quero morrer. Deve ser feliz morrer assim, tão suavemente. Ou não, morrer deve ser sempre triste mesmo. Mas a questão não é a morte em si e sim todo o ato que antecede o momento da morte. Esse ato, o último ato, esse sim deve ser feliz. Bom, o que eu sei agora, do meu presente, é que ainda não dormi e ainda estou escrevendo cartas sem destinatários, pensamentos confusos e coisas sem sentido. É como dizem ‘’O teu mal é sono!’’ Então, vou lá, deitar e olhar pro teto branco do meu quarto, esperando o momento em que o sono chegará e me fará sonhar e descansar e esperar o amanhã. E se nada disso resolver, bato minha cabeça na parede e desmaio. Boa noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário