Bêbado


Ando meio bêbado ultimamente. Essa droga, a bebida, essa droga ilusória que me faz pensar que ando flutuando, meio solto pelas ruas do mundo, sem destino e tudo bem se for assim, tudo confuso e duplicado e escuro. Essa droga vem tomando conta do meu corpo e a cada dia que passa estou mais bêbado. Acordo já com aquela tontura bêbada com aquele bafo bêbado e meu bom dia sempre sai bêbado, ou é ‘’dia bom’’ ou ‘’boa noite’’, ‘’boa tarde’’, tantas outras saudações que se misturam e no final não saúdam nada, nem ninguém. Está difícil até pra caminhar, dou mais passos do que devia, piso onde não devia, vou para um lado quando tenho que ir pro outro e o equilíbrio é algo que não tenho mais. Porém busco sempre o equilíbrio quando saio vagando por aí, busco porque é preciso manter certa postura diante dos desconhecidos, diante de quem sempre te julgará pelo seu passo bêbado, seu cabelo malfeito e seus trajes estranhos. O meu problema é que não encontro mais o equilíbrio nem no caminhar, nem dentro de mim. E esse tal do equilíbrio representa um eu idealizado por mim mesmo que nunca existirá, onde sou o que deveria ser, faço o que deveria fazer, ando reto, piso firme. É um sonho que eu bêbado tento alcançar, mas nunca consigo. A distância entre o bêbado e o sonho foi se tornando cada vez maior, como um entrelaçar de dedos que vai se desfazendo, desfazendo, até os dedos não se tocarem e se distanciarem tanto que criam a certeza de que nunca mais vão se entrelaçar de novo, cada um vivendo no seu escuro. Então, eu bêbado assim, mesmo com a certeza de que nunca serei quem deveria ser, vou procurando pelos caminhos mais confusos da mente encontrar algo que me faça ser o que não sou, me faça ter a paz do equilíbrio e quem sabe um dia saúdo o dia que amanhece com o sorriso de um sonhador: andar firme, cabelo bom, roupa certa e o copo vazio.

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