Abre os olhos e chora, por sentir que a cama ainda está vazia, que a dor não passou. Abre os olhos porque não consegue mantê-los fechados e encarar de frente seus pesadelos, que sempre trazem à tona todo os erros cometidos, todas os pecados. Já não sabe mais o quê enxergar, não encontra mais beleza em nada. O seu mundo está se diluindo na sua frente e já não tem forças para salvá-lo. Reza para que seu coração seja curado, que a ferida não esteja mais aberta nesse novo dia, mas ele sempre se depará com mais sangue, mais sofrimento e não entende o motivo de tudo isso estar acontecendo agora.  Procura explicações nas estrelas, no céu, no mar, nas pessoas, na TV e no cinema, mas nada e nem ninguém consegue lhe explicar a causa dessa dor incessante em seu peito. Deseja um dia voltar a sorrir como sorria antes, sem amargura, sem pressão, sem mágoas. Sonha com um mundo que gira e que o leve para novas chances, novas pessoas, novos amores. Anda pelas ruas tentando observar o óbvio, a felicidade, ele encontra, mas logo percebe que nada lhe pertence e a felicidade que quer encontrar não está fora e sim dentro. Cansa dos murros e pontapés, apanha das palavras e xingamentos, é torturado pela impaciência e incompreenssão. Não gosta mais de ler como antes, não dança mais como antes,  não joga mais como antes, já não é mais o antes. É o agora. O terrível presente que alguém lhe deu. O pior é saber que foi ele mesmo que resolveu seguir por esse caminho. Só o que resta é continuar caminhando, meio cambaleando, meio rastejando, mas caminhando, sabendo que uma hora ou outra, entre uma luta e uma batalha, entre uma lágrima e um sorriso, alguém de novo aparecerá e resgatará tudo que lhe foi roubado durante todo o percurso. Seguir em frente também é uma maneira de esperar por alguém.

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