Solto.

Solto, suspenso no ar. Estou sendo empurrado pela pressão gravitacional. Não, é mais do que isso. É pressão de batimentos repetitivos, de pensamentos enegrecidos e sentimentos confusos. Sinto que a qualquer momento meu corpo se encontrará com o chão e causará dores nunca sentidas. Procuro desesperado por braços amigos que possam me segurar, não os encontro. Dessa vez todos foram embora, se perderam no meio do meu caminho. Meus braços balançam freneticamente no ar, decepcionados por não serem asas e não poderem me salvar num voo.  Olho ao meu redor e só enxergo escuridão. O mundo que havia ao meu redor foi engolido pelas trevas e a única luz que ainda brilha é a minha pequena estrela lá em cima, que nessa hora já brilha tão fraca que em poucos segundos seu brilho se tornará apenas um fio de luz, quase sem vibração. Deixo minha cabeça pender pra trás num verdadeiro ato de desistência, fechos meus olhos e penso em como perdi todos os meus apoios e minhas estruturas. Uma última lágrima desloca-se do meu olho, descendo lentamente pelo meu rosto, trilhando um caminho molhado até cair em queda livre ao chegar ao limite do meu maxilar. Poucos centímetros antes de tocar o chão, meu corpo é congelado no meio do ar e meus pensamentos voam até meu passado, antes feliz e num determinado momento – não sei qual - tornou-se o pior dos passados. A infelicidade tomou conta do meu ser de tal forma que a reserva de energia que ainda se encontrava dentro de meus músculos se fora num grito estridente de dor, um grito sem forma nem cor, apenas um grito. O meu último suspiro. Enfim vazio, meu corpo despencou no chão escuro e frio. Aquele último fio de luz foi-se apagando. Encolhi-me no chão, deitei-me no frio e senti o último soprar de vida ir embora.

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