Além

Ele acordou determinado a possuí-la. No dia anterior pensou bastante no que essa decisão acarretaria, nas consequências de ir além do normal e decidiu arriscar todo o laço existente entre os dois só pelo roçar dos seus lábios nos dela. Então, ele acordou e seguiu o mesmo caminho de sempre esperando encontrá-la para lhe dizer tudo que havia pensado e decidido. Sentiu sua ansiedade aumentar quando não a encontrou durante todo o caminho. Mesmo assim soube esperar até o momento do encontro, pois sabia que uma hora ou outra teria que esbarrar no ombro dela, afinal, ainda existia o laço entre eles que sempre faziam os dois darem de cara. O momento chegou e as suas pernas tremeram quando viu ela andar em sua direção, com um olhar incomum para ela e um jeito de andar pesado. Pensou que isso era normal na situação dos dois, ou seja, que é normal ficar tão nervoso quanto ele. E todos aqueles sinais no corpo dela eram apenas nervosismo que logo iria embora com o tocar dos dedos entrelaçados. Porém, ela o surpreendeu ao dizer:

- É dificil. A situação, eu e você, as pessoas ao nosso redor, nossa história. É tudo muito difícil.

Ele sentiu uma onda gelada percorrer seu corpo e seu coração começou a se encolher até sumir. Meio gago, meio nervoso e completamente partido, tentou manter o controle de si e respondeu:

- Eu preciso disso. Tenho certeza de que o destino será maravilhoso com nós dois. Você precisa confiar, precisa... - Me beijar. Era isso o que queria dizer, mas não disse. Um medo tomou conta do seu ser e acovardou-se, evitando ir além, logo agora que tinha decidido ter coragem de ir.

- Eu... Realmente não sei. - Ela parecia estar desconfortável com a situação. - Você é um grande amigo, ótimo, daqueles que gosto de conversar, mas talvez seja só isso, entende? Talvez eu apenas goste de conversar.

Logo ele viu que tudo que tinha decidido no dia anterior nada valeria naquele momento. Nada adiantaria tentar convencê-la de que ele é o cara certo para ela e vice-versa. Tentou achar forças para continuar a insistir mas notou cansaço nas palavras, nos gestos e no rosto dela. Sabia que estava destruindo tudo que eles haviam construindo até ali, mas não conseguia compreender o porquê de não poder construir algo bem maior. A onda gelada tornou-se quente num piscar do tempo, sentiu um calor enorme dominar seu corpo e torná-lo cansado. Ele não queria mais estar ali, não queria ter que ouvir tudo aquilo de novo, só que agora dito por ela, logo ela, a garota, o seu sonho. Foi então que começou a correr, desceu a ladeira que dava no portão da sua casa segurando a raiva, rangendo os dentes e com os punhos fechados. Tentou entender tudo que se passou naquela manhã, tentou entender tudo o que sentiu numa manhã que era certo para ser a melhor de sua vida, mas não conseguiu. Sentia dor, raiva, decepeção, tristeza, amor e aquela sensação de ser quebrado em pedaços. Ele não conseguiu entender. Ele não entende até hoje porque ainda pensa tanto nela. Talvez porque ele goste de pensar, entende? Apenas.

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