Malandro

E ele vem, com seus jeito malandro de andar, seu sorriso no rosto, seus olhos perdidos e todo o brilho de uma paixão. Vem e logo me enrola com seus braços, tão morenos e fortes. Houve tempo em que meu corpo apenas se despejava sobre esses braços e meu mundo era ali, mas ultimamente estou com pavor de tocá-los. Quando eles me envolvem são como correntes que me prendem e não me deixam ir além do que sou. Os beijos dele são como sanguessugas que sugam toda a minha vitalidade, minhas energias e minha liberdade. Sinto-me sufocada com tantas carícias, tanto afago. Quero voltar para o meu mundo e dizer olá novamente à todos os meus parceiros e parceiras. Quero voltar a tomar sorvete, me lambusar e depois correr atrás das minhas crianças, dizendo que sou o monstrinho. Eu preciso me livrar disso, preciso encontrar algo concreto, que seja forte como eu sou e que me proteja. Se ao menos eu pudesse dizer isso à ele, se ao menos me deixassem mandá-lo embora, se ao menos eu tivesse uma arma e pudesse fazer dela a chave para minha liberdade, matando-o. Essa sensação de não poder é ruim, é humilhante. Me puxa para os mais baixos níveis da impotência e me afunda num poço de lágrimas... Não minhas, lágrimas dele. E como perco a paciência com os choros dele, com a carência e todo a sua insegurança. Como ele conseguiu se tornar uma pessoa tão patética? É isso que acontece com os malandros quando amam? Tornam-se Zés? Será que o amor faz eles sambarem menos quando a música da vida toca? Bom, com o meu malandro é assim. Alias, nem malandro ele é. Agora é um romântico, um Romeu. Morreria por mim, mataria por mim. Coitado. Mal sabe ele que o meu tempo acabou, que minha música se foi e todo o meu amor o deixou. Se ele ainda for malandro mesmo, talvez faça um música sobre a dor que sentirá e será ouvido por milhares ou por minorias, não importa, será ouvido. A falta que você sente não é minha, Malandro. É da música.

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