Garoto

É um pulsar baixo, cadenciado, que cresce disforme dentro do cúbiculo enegrecido. É um garoto esguio, magricela, deitado na única cama do cúbiculo e que sente o pulsar estourar seus ouvidos. O sangue desliza suavemente pelas suas bochechas, seu pescoço e mancha a pele amarela pálida colada aos ossos. Ossos brutos, duros, não se partem, pesados e barulhentos. Cada movimento é uma imagem silenciosa, como o voo de um pássaro em câmera lenta. O cúbiculo é a praça, a rua, a lanchonete, o salão de festas, o campo de futebol. O cúbiculo é o caminho a ser trilhado. O garoto magricela sobe na cama e com a força dos seus músculos pobres fica em pé. Abre os braços de pele amarela pálida e sente o sangue caminhar pelo seu corpo. Sente o pulsar forte em sua cabeça descer pro seu coração e depois pro seu estômago e para os joelhos e os pés e volta para cabeça e se aloja na suas costas e como uma ventania forte o empurra no chão e então ele cai. Em pé. Rindo a loucura que o toma, que o impulsiona e o faz correr pelo cúbiculo escuro de braços abertos, dando voltas, piruetas, trançandos os pés, balançando os braços, cambalhotas, empurrões, socos, pontapés, cabeçadas e por fim terminar de cara no chão, com o corpo vermelho de sangue, com o sorriso vermelho de sangue, com a pele vermelha de sangue, com a mente vermelha de sangue, com a alma se esvaindo junto com o seu sangue.

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