Anj

E sobe aos céus como um anjo negro maldito por ter dito o que não era pra ser ouvido, e então vive com um sorriso podre no rosto iluminando a alma daqueles que são escuros e negros, fétidos e mortos. Ele sobe aos céus à procura de Deus e chega lá, procurando Deus, achando ninguém, o céu vazio de Deus, cheio de nuvens brancas e trovões negros, o céu sem anjos e pássaros. Pisa no chão do céu implorando por uma energia mágica cósmica adentrar os furos dos teus pés e invadir teu organismo e fazê-lo sentir nem que fosse uma pontada assim de qualquer coisa que seja misturada com a indiferença que nutre pelos outros que não enxergam nada além do que é pra ser visto e principalmente pego. Roda os braços nos chãos dos céus tentando acertar o rosto de um santo, tocá-lo o faria sorrir como nunca sorriu antes, porque eis um milagre, um santo, mas não, nada de santos para ele, apenas a falsa impressão de que a única companhia que tem é sussurrar do vento em seus ouvidos sujos, sussurram algo mais ou menos assim pule, pule, se jogue, o céu é tão vazio quanto o seu coração, o céu é seu lar, mas tu não quer nada disso! Quer mãos e pernas e rostos e salivas e seios e genitálias tocando tua pele sedenta por humanos E ele gargalha enquanto ouve tudo aquilo chegar aos seus ouvidos, gargalha enquanto corre em direção ao precipício e num salto de braços abertos imita um anjo qualquer negro que se joga do céu e vai de cabeça em direção ao inferno, queimando suas penas ao invadi-lo e cair no colo de centenas de anjos também caídos que sentiram a falta de um Deus e fizeram o mesmo que ele, se entregaram a necessidade de ter alguém o empurrando, tocando-o e sendo-o.

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